domingo, 13 de junho de 2010

"Não acredito em bruxas", diz Eliane Giardini



Depois de uma longa temporada de papéis fortes, porém cômicos, Eliane Giardini sentiu vontade de mudar de ares. E conseguiu. Agora, como a misteriosa Pérola de Eterna Magia, a atriz experimenta usar seus conhecimentos de pesquisas sobre Física Quântica, Filosofia e Psicologia para se adaptar ao clima místico da trama. "Não acredito em bruxas, mas sempre fui muito curiosa sobre o que existe por trás das coisas visíveis", conta.

Emplacando um personagem de destaque atrás do outro desde que ganhou visibilidade como a Dona Patroa, de Renascer, em 1992, Eliane pretende se aventurar em outra área assim que tiver coragem: a de produção em tevê. Contratada da Globo até 2010, a atriz já planeja produzir e dirigir algo voltado para a tevê a cabo, aproveitando o mercado em expansão. "A televisão está seguindo esses rumos. No teatro, produzi 99% das peças que fiz, acho que posso gostar de fazer isso na tevê também. Se bobear, fico só nessa onda depois", prevê. Leia a seguir a entrevista com a atriz.

Você começou na Globo interpretando papéis dramáticos, depois enveredou pela comédia e recentemente disse que já estava na hora de mudar de ares. Conseguiu isso com a Pérola de Eterna Magia?
Acho que a gente opera em um movimento de pêndulo. Quando isso se completa, quer o oposto do que está se acostumando a fazer. Passei por uma fase longa de papéis muito temperamentais e engraçados. Foi das mais divertidas da minha vida, com trabalhos como a Nazira, de O Clone, e a Neuta, de América, além de outras mulheres fortes. Mas chega uma hora que a gente precisa procurar um outro lado. O grande problema dos artistas é que a televisão não é um veículo que possa correr muitos riscos. As pessoas sabem mais ou menos qual é o seu perfil e enquadra você nisso. Minha intenção é expandir cada vez mais essas possibilidades porque é vantajoso para a carreira. Por tudo isso acho que a Pérola entra bem nessa meta, já que é uma mulher delicada, culta, amedrontada e com esse atrativo da magia. Ela está sempre cercada de pessoas temperamentais, mas tenta amenizar a situação. É um personagem que escapa do estilo dos meus últimos, vai para uma floresta desconhecida.

Para você, qual seria o seu perfil como atriz?
Eu mesma ainda não consegui definir. O que eu sei é que exercitei bastante essa coisa meio italiana do cinema dos anos 50, meio Anna Magnani, aquelas coisas mais dramáticas que, de tão tristes, se tornam comédias na outra ponta do trabalho. Acho que isso me define. Quando as pessoas que me conhecem vêem personagens espalhafatosos, intensos nesse aspecto do drama, pensam em mim. Mas já fiz trabalhos diferentes também, principalmente nas minisséries. Uma das coisas que contaram para que eu recebesse o convite para Eterna Magia foi meu trabalho em Um Só Coração.

Por quê?
O Carlos Manga pensou em mim porque fez comigo a minissérie. Eu interpretava a Tarsila, que era muito próxima da Pérola. Tinha essas características de mulher culta e refinada. A Pérola, na cabeça dele, seria meio que uma espécie de prima da Tarsila. Eu não planejava voltar às novelas tão cedo. Emendei América com Cobras & Lagartos e estava mesmo disposta a investir no teatro. Mas tenho um carinho enorme pelo Manga e foi ele mesmo quem ligou. Disse que seriam poucos atores, ficou falando sobre a magia, as gravações na Irlanda, que seria com a Malu Mader e a Irene Ravache, enfim... Acabei entusiasmada com o conjunto.

Você já se interessava por esses temas místicos antes de se preparar para a novela?
Filosofia e Psicologia me atraem bastante, então posso dizer que sempre fui muito curiosa sobre o que existe por trás das coisas visíveis. Não acredito em bruxas, mas entendo que a gente não sabe tudo sobre o universo. É difícil explicar certas coisas na vida. Vejo pela minha trajetória mesmo. Fiquei dez anos tentando me sobressair na tevê sem conseguir e de repente atingi um patamar legal na carreira, mesmo começando tarde. Em que momento eu mudei? Não sei o que aconteceu. De repente foquei no problema muito tempo, mas não sei. Existem coisas por trás das coisas. Isso me instiga.

Você tem mágoas dessa época em que corria atrás e não conseguia ter visibilidade na tevê?
Teve uma época da minha vida em que isso foi muito forte, mas passou. Até os 40 anos não conseguia fazer um bom trabalho em tevê. Tinha a síndrome da mulher invisível, fazia coisas que não tinham nenhum destaque. Minha primeira personagem na Globo não foi em Renascer, mas em Desejo. Depois fiz ainda Felicidade. Adoro Física Quântica e outro dia estava lendo que todas as coisas que a gente já pensou em toda a vida, em algum lugar, algum plano do universo, têm matéria. Aí fiquei pensando na loucura que é isso e me imaginei acordando um dia e vendo que ainda estou tentando até hoje, sem ter conseguido emplacar um sucesso na tevê. É engraçado porque essa era uma grande meta e até hoje levo esses sustos, tenho medo de ter me enganado.

E hoje, quais são suas metas?
Minha cabeça viaja muito na vontade de começar a contar as histórias, produzir um pouco. Tenho um desejo imenso, mas falta coragem. Não saberia nem por onde começar. Acho que esse é o rumo que a tevê segue atualmente, com várias produções independentes. Tenho planos de abrir uma produtora e experimentar. Não agora, talvez daqui a uns cinco anos. Pode ser até que eu faça, goste e não saia mais desse meio. Depois que você começa a conduzir seus próprios trabalhos, tudo muda. Você fica dono da situação e isso é muito gostoso. No teatro já tenho isso, posso dizer que 99% das peças que participei foram produzidas por mim. Fora isso, tem alguns papéis que gostaria de fazer, mas ainda não rolaram.

Que tipos de papéis?

Uma grande vilã, por exemplo. Fiz Vida Roubada, no SBT, e interpretava uma garota que era muito má. Ela estudava em um colégio interno durante anos e, de repente, colocava a amiga de escanteio e voltava para a casa dessa menina, se fazendo passar por ela, porque a família era rica. Era cruel mesmo, ela matava gente queimada, era uma loucura. A gente brincava muito. As coisas quando ficam exageradas acabam perdendo o ponto, se tornando engraçadas demais. Mas nunca mais fiz uma grande vilã na tevê. Em compensação, tenho vários papéis de peso na carreira, como a Dona Patroa, de Renascer. Foi ali que a fase boa começou.

Na época, já estava previsto na sinopse aquele destaque da personagem?
Houve uma empatia muito grande do público. Não lembro direito da sinopse, mas toda a reviravolta na vida dela foi muito precipitada por isso e pela boa relação que consegui ter com o autor e com o diretor. Foi um trabalho muito feliz, uma novela abençoada. E o Benedito gostou de mim assim que viu as primeiras cenas. E a gente sabe que quando o autor gosta do que o ator está fazendo, tudo muda. Agradeço muito ao Luiz Fernando Carvalho pela escalação. Fiz Helena, na Manchete, com ele e a Denise Saraceni. Ela me convidou depois para Desejo e Felicidade, e ele, para Renascer. Acabou que o par romântico com o turco Rachid, do saudoso Luís Carlos Arutin, fez um baita sucesso e a novela ficou muito bem no Ibope.

A audiência de Eterna Magia não vem mantendo a média esperada para o horário. Isso preocupa você?
É lógico que a gente espera sucesso em todos os trabalhos, mas não vejo só dessa forma. Acho que esse conceito de audiência tem que ser modificado, porque hoje em dia existem várias opções e as emissoras pagas estão crescendo. Nunca mais vamos ver os resultados que Roque Santeiro e Vale Tudo tiveram, por exemplo. Além disso, as novelas costumam se encerrar com uma média maior que a dos primeiros capítulos. Eterna Magia está só começando, muita coisa ainda vai acontecer e essa situação deve melhorar.

Mulher moderna


Eliane Giardini sabe que, aos 54 anos, é uma das atrizes mais sensuais de sua geração, mas não encara isso como uma vantagem. Para ela, a explicação de toda essa vitalidade está no histórico das mulheres desde sua juventude até hoje. "Minha geração aos 18 anos fez uma revolução, uma quebra de valores. Acho natural que cheguem à maturidade trazendo benefícios também", opina, referindo-se ao prolongamento da vida afetiva feminina nos dias de hoje.
Mesmo depois de viver Eva em Cobras & Lagartos e agora, com a Pérola de Eterna Magia, Eliane conta que ainda colhe os frutos da novela América, quando interpretou a viúva Neuta. Na época, a atriz recebeu mensagens e foi abordada nas ruas por mulheres que torciam pela relação amorosa entre sua personagem e o peão mais novo Dinho, vivido por Murilo Rosa. "As mulheres se identificam comigo porque enxergam a vontade de se cuidar e de viver não só em meus trabalhos, mas em mim também", conclui.

Fora de casa


Segundo Eliane, uma das coisas que mais favoreceram a preparação de sua personagem foi a viagem a Dublin, na Irlanda. Para a atriz, o clima e ambiente propício se aliaram ao fato de toda a equipe estar longe de casa, focando apenas no trabalho. Tanto que, quando se aventurar em seu projeto de produzir algo para a tevê, pretende usar a mesma estratégia, se conseguir capital. "Essa é a melhor forma de se formar uma equipe. Não dá para fazer o trabalho e voltar correndo para casa, a entrega é muito maior", analisa Eliane, que ficou dez dias gravando na cidade as cenas dos primeiros capítulos de Eterna Magia.

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