domingo, 13 de junho de 2010

Entrevista com os atores da peça Tarsila

1- Secretaria Estadual da Educação - Contem-nos como foram conduzidas suas trajetórias no teatro. Que experiências, que vivências lhes deixaram marcas e influências e os levaram a optar pelo caminho do teatro?

Eliane Giardini - Eu comecei a fazer teatro aos 18 anos. Teatro amador. Desde muito pequena me interessava vivamente por tudo que dizia respeito à interpretação. Tive tias muito dramáticas, que adoravam declamar poesias e me ensinavam. Tive uma amiga cujo pai fazia teatro amador, eu adorava assistir aos ensaios e, como era muito pequena, assistia da coxia. Aos 17 anos, um tio chamado Solha, escritor, resolveu fazer um longa-metragem na Paraíba, estado onde morava e mora até hoje. Ele veio a São Paulo alugar equipamento, câmeras, etc. e me levou com ele. Fiz o filme, que se chama O Salário da Morte e na volta, já em Sorocaba, comecei a fazer teatro amador. Um ano depois, prestei vestibular para a Escola de Arte Dramática em São Paulo.

2- SEE - O que é preciso para fazer teatro?

Eliane Giardini - Em primeiro lugar, talento. Essa coisa invisível, indefinível, mas imprescindível; depois, vem o cultivo: as leituras, informação, observação, interesse, esforço e, acima de tudo, a persistência.

3- SEE - Como vocês vêem a relação da escola com o teatro?

Eliane Giardini - Deveria ser infinitamente maior e melhor. Eu tenho uma experiência muito particular. Quando já fazia teatro profissional em São Paulo, atuava no grupo "O Pessoal do Victor". Esse grupo foi contratado pela Unicamp, para o estudo e posterior criação de uma escola de arte dramática. Inicialmente fizemos cursos abertos para todos os estudantes, para tentar chegar a algum lugar. Noventa por cento dos nossos alunos trancaram matrícula porque nunca tinham se perguntado realmente o que queriam fazer da vida, vinham numa conduta robótica, selecionando profissões baseadas num desempenho de mercado. Aquela pequena crise foi desencadeada pelo exercício do conhecimento de si mesmo, de investigação de valores pessoais.

4- SEE - De que maneira o trabalho com a dramaturgia pode ajudar professores e alunos na sala de aula?

Eliane Giardini - O forte do teatro sempre foi a reflexão. Todos os grandes temas, as grandes dúvidas, os grandes amores, e as pequenas misérias, são e serão seus temas. E nada mais libertador do que assistir a um drama semelhante. Saber que faz parte da natureza humana. Fora isso, é um excelente treino de conduta em conjunto. No teatro, a equipe é um antídoto contra o individualismo.

5- SEE - Vocês gostariam de sugerir aos professores algumas orientações básicas para o trabalho com teatro, na escola?


Eliane Giardini - Teatro amador em escolas foi o caminho luminoso que eu segui, a ponte que me levou a uma escola de teatro e, daí, à profissionalização.

6- SEE - O que representa, para o elenco, interpretar os pioneiros do movimento artístico modernista brasileiro?

Eliane Giardini - É apaixonante. Além de serem gigantes e revolucionários, colocaram o Brasil no mapa-múndi através da arte. Evocar essas personagens, contar suas histórias pessoais, além de nos aumentar como seres humanos e brasileiros, nos dá uma noção muito clara de nossa história recente. Ajuda a cultivar memória.

7- SEE - Gostaríamos que vocês comentassem sobre a atualidade dessa peça, bem como sobre a relevância de se encená-la atualmente.

Eliane Giardini - Acho que a resposta já está acima.

8- SEE - Comentem, por favor, sobre as alterações que o modernismo trouxe; como ele alterou o panorama da cultura de nosso país, tornando-se um complexo movimento de renovação cultural da arte no Brasil.


Eliane Giardini - A grande alteração que o movimento trouxe foi a valorização do que era brasileiro. Numa época totalmente "europeizada", os olhares e interesses foram convergidos para o que era despudoradamente brasileiro.

9- SEE - Oswald de Andrade, no Manisfesto da "Poesia Pau-Brasil", assim falou sobre o teatro: "Ágil o teatro, filho do saltimbanco, Ágil e ilógico. Ágil o romance, nascido da invenção. Ágil a poesia. A poesia Pau-brasil. Ágil e cândida. Como uma criança ". O que vocês podem comentar sobre isso?

Eliane Giardini - Traduz bastante o espírito do movimento, a alegria da desconstrução do que era pesado e inatingível como a arte européia. Tudo novo, tudo ainda por fazer, por inventar, por desobedecer.

10- SEE - O movimento modernista influenciou a arte dramática do ponto de vista de renovação estética?


Eliane Giardini - Claro, os tropicalistas resgataram o movimento modernista nos anos 60, com a montagem pelo teatro Oficina do Rei da Vela, de Oswald de Andrade, surgiram grupos como o Arena e o Oficina.

11- SEE - Há diferenças no processo de construção da personagem na televisão e no teatro? Quais?

Eliane Giardini - Não vejo diferença na construção. Todos meus personagens são trabalhados intelectualmente da mesma maneira. A forma de expressão é que muda. A televisão pede uma interpretação menor, mais natural, com pouca movimentação, favorecendo a captação da imagem. No teatro somos como peixes que foram tirados do aquário e jogados ao mar.

12- SEE - Eliane Giardini, qual a característica principal da personalidade de Tarsila que você apreendeu para compor a personagem?


Eliane Giardini - Tarsila foi abordada, no teatro e na minissérie, no público e no privado. No público fica sua altivez, sua elegância, sua alegria e leveza. No privado procurei sublinhar sua auto-estima elevada, sua generosidade e sua disposição para ser feliz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário