domingo, 13 de junho de 2010

Amor na maturidade


Solteira, a atriz que mora sozinha na Barra da Tijuca fala sobre relacionamentos modernos e se diverte com os beijos em Antonio Fagundes na novela da Globo.

Ela está rindo muito. As mulheres também, e dando corda. ''Todas pedem para eu beijar o Fagundes por elas!'', diverte-se Eliane Giardini, 57 anos, feliz com seu papel em Tempos Modernos, como par do galã. ''Acho muito original na TV dar espaço a uma história de amor verdadeira, romântica, de duas pessoas maduras, como é o caso do meu personagem com o do Fagundes. Fiquei muito feliz por terem apostado nesse amor maduro'', completa. A atriz afirma ter uma história de vida e profissional que podem ser descritas como ''invertidas''.

Começou tarde na profissão e teve filhas antes de mergulhar numa atividade que agora lhe toma todo o tempo. ''A maioria dos atores na minha idade tem 40 anos de carreira, eu tenho 18. Tive o melhor dos mundos: uma vida intensa com minhas filhas, em que pude acompanhar o crescimento delas, e consegui chegar junto. E na profissão ainda sinto o gostinho de novidade. Eu não me ressinto de nada'', explica ela, citando as filhas, a cantora Juliana, 33, e a assistente de direção Mariana, 30, frutos do casamento de 23 anos com o ator Paulo Betti, 57.


Congelar o cérebro?



Embora Hélia, sua personagem, tenha uma relação intensa na trama da Globo, Eliane não assina embaixo desse tipo de amor. Ela garante que não faz o estilo romântica. Pelo contrário, luta contra o amor idealizado e as paixões arrebatadoras. Foram descobertas depois da longa relação com Betti que trouxeram para a atriz novas relações e a independência financeira. ''Vivemos uma época marcada por relações de afeto, de companheirismo, de carinho. Hoje ficamos com uma pessoa e, se a relação não está mais dando certo, saímos dela. Nada mais é obrigatório'', explica.

Sua experiência é usada como exemplo do mal que a paixão faz, apesar do ''barato inacreditável''. ''Os orientais combatem muito a paixão porque ela congela o cérebro, não nos deixa pensar. Estou descobrindo que existem coisas que também me levam a um estado de muito prazer, seja num estudo ou em alguma outra coisa que eu goste muito de fazer, que me dá esse êxtase. Não dá para jogar tudo em cima de um parceiro, fica pesado demais'', analisa.

História forte




Mas que fique bem claro: Eliane não está fechada para balanço - e apesar de separada desde 1997, continua usando como referência de relacionamento o que teve com Betti. ''Sei que tive uma história muito forte com o Paulo, um casamento lindo, que me trouxe duas filhas maravilhosas. Tenho nele um grande amigo. Essa história de casamento e filhos eu já tive a minha. Não descarto essa possibilidade, só que hoje acredito que a melhor relação é cada um em sua casa, porque o cotidiano é difícil, ter de dividir é complicado. Tenho as minhas filhas, as minhas manias, o meu espaço. Na minha idade, com os exemplos que eu tenho tido de algumas relações, acho ótimo o companheirismo, o namoro etc. Mas cada um em sua casa. Ainda não senti a necessidade de me mudar para a casa de ninguém nem de essa pessoa se mudar para a minha.''


Livros companheiros



Ela adora ficar mergulhada em livros, estudar, principalmente se os temas forem relacionados à psicanálise e à filosofia. É um mundo particular do qual não abre mão. ''Eu gosto da solidão, pois adoro ficar só com meus livros, estudando no silêncio. Acho delicioso fazer meus cursos, saber que existem outros universos, preciso me alimentar de outras fontes, isso me faz bem e é uma das coisas que me mantém com espírito jovem'', diz. Nesse processo também entram as aulas de cabala do mestre Mario Meir, que Eliane frequenta há cinco anos, e, mais recentemente, as aulas de física quântica com o professor Luiz Alberto Oliveira, na Casa do Saber. ''Eu saio completamente do meu meio. Sento numa cadeirinha e escuto o meu mestre falar. A minha cabeça e o meu coração ficam levitando...'', afirma.


Cegueira



O espírito jovem serve para dar conselhos às filhas, ''os bem clichês'', segundo Eliane. ''Eu falo: 'Não deem tanta importância assim, isso não vai fazer tanta diferença daqui a dez anos''', ela conta e cai na gargalhada. ''A idade traz ganhos. Quando jovens, precisamos dessa cegueira de achar que as coisas são muito urgentes. Isso faz parte da idade, até para aprendermos a ter mais força. Depois ficamos mais reflexivos, perdemos um pouco na ação, mas ganhamos na sabedoria'', completa.



Os 60 anos estão chegando com serenidade para a atriz. ''É claro que eu adoraria ter o corpo rígido que eu tinha aos 20 e com a cabeça que eu tenho hoje (risos). Isso é outro clichê, mas é óbvio! Não faço reposição hormonal. É desconfortável, os sintomas físicos são bem chatos. Infelizmente a idade traz perdas, mas temos os ganhos. A qualidade de vida é maior hoje em dia'', diz.



Perto das filhas




Uma mudança que Eliane fez foi sair de sua casa na Barra e ir para Ipanema. Por quê? Para ficar mais próxima das filhas, companheiras de todas as horas. Juliana e Mariana se casaram e deixaram a casa da mãe, mas o momento delicado está sendo tratado com cuidado. ''Elas moram a um quarteirão da minha casa. Gostamos de estar perto uma da outra, tanto que deixei minha casa para vir para cá. Eu preciso desse contato. É muito claro que estamos num processo de transição, elas indo para as casas delas, eu ficando sozinha... Mas tomamos café da manhã juntas, elas vão trabalhar, eu vou para lá também... Elas têm os cantos delas, mas, nos momentos críticos dos relacionamentos, correm para a minha casa (risos). Nossa relação é muito intensa!''. Eliane dirigiu seu primeiro curta-metragem, Filtro de Papel (2009) e teve Mariana como assistente de direção - o curta foi selecionado para o Los Angeles Brazilian Film Festival este ano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário