domingo, 13 de junho de 2010

Eliane Giardini fala de sua bipolaridade artística

Não é de hoje que Eliane Giardini demonstra saber tirar proveito dos personagens exóticos - todas mulheres exageradas e de muita personalidade - que vive nas novelas de Glória Perez. A atriz, que se diz "uma pessoa básica" em seu cotidiano, é destaque agora em "Caminho das Índias" como a mãe passional capaz de deixar filhos, marido, sogra e noras em polvorosa com suas greves de fome e ameaças de ingestão de veneno. Indira é mais um dos tipos populares vividos por Eliane no horário nobre. Aos 56 anos, a atriz se diverte com tudo - até com as cenas em que se arrisca na dança indiana -, mas diz não abrir mão do que considera uma de suas marcas: transitar também por trabalhos mais requintados - e feitos de forma quase artesanal - como a microssérie "Capitu", sua empreitada anterior na TV, exibida no fim do ano passado. - Os meus trabalhos atendem a uma demanda interna que tenho. É uma bipolaridade artística. Gosto de fazer coisas sofisticadas na TV, mas me divirto e fico muito à vontade numa novela da Glória - garante Eliane, que já viveu memoráveis personagens da autora, como a cigana Lola de "Explode coração", a marroquina Nazira de "O clone" e a viúva Neuta de "América". - Trabalho de forma pendular. Tem momentos em que quero mesmo fazer uma novela das oito, popularíssima, vista por milhões. O que não impede a atriz, no exemplo recente de "Capitu", de se enfurnar num galpão do Centro do Rio, durante meses, para se dedicar a oficinas de corpo e voz da microssérie dirigida por Luiz Fernando Carvalho. Na obra baseada em "Dom Casmurro", clássico de Machado de Assis, Eliane interpretou a controladora Dona Glória Santiago, mãe de Bentinho, e atuou ao lado de nomes ainda pouco conhecidos na TV.
- Sou uma pessoa muito básica na vida e gosto de fazer essas mulheres exageradas, que me levem para bem longe - completa. A capacidade de encarnar personagens tão distintos é reconhecida pelos amigos e companheiros de profissão. - Eliane é uma atriz que transita por onde tiver que transitar, que entra no universo de qualquer autor - constata a atriz Ana Beatriz Nogueira, também no ar em "Caminho das Índias", e amiga de Eliane desde que as duas atuaram juntas na peça "Memória da água", no começo desta década. - Ali ficamos amigas para sempre. Lembro até hoje de um ataque de riso que tivemos, na cena do funeral da mãe das personagens, quando troquei as bolas no texto - entrega a intérprete de Ilana na trama das 21h. - Eliane tem um senso de humor maravilhoso e é uma atriz que conhece muito bem o universo da Glória. Ela ajuda você em cena. Entro no set seguro quando sei que irei contracenar com ela - afirma Rodrigo Lombardi, que vive Raj, um dos filhos de Eliane na novela. Fã de seriados de ficção científica como "Lost" e "Fringe", Eliane Teresinha Giardini recebeu a Revista da TV em seu apartamento, em Ipanema, onde mora com a cadela Amora, da raça labrador. É lá que a atriz, inscrita agora num curso de ciências e física, recebe amigos e toma café da manhã todos os dias com as filhas Juliana, de 32 anos, e Mariana, de 28. - As duas estão casadas, mas cada uma mora em uma esquina perto aqui de casa. Temos uma relação leve, de parceria - conta a atriz, que agora está montando o curta-metragem "Filtro de papel", dirigido por ela e a filha caçula. Pai das filhas da atriz, com quem foi casado por mais de 20 anos, Paulo Betti começou a carreira junto com Eliane - os dois são de Sorocaba, no interior de São Paulo. - Fizemos teatro amador em Sorocaba. Além de muito bonita, Eliane sempre foi muito talentosa, tinha essa coisa de grande atriz desde o começo. Eliane é também uma mulher muito na dela, recatada, que não faz nada para agradar aos outros - conta Paulo. Apesar de ser completamente diferente de Indira, Eliane se inspira na própria família para interpretar a indiana. - Eu não penso que estou fazendo uma mãe indiana. Faço uma mãe como as da minha família, de origem italiana, que têm um sentido muito grande de tribo. Eu também cresci dessa forma - conta a atriz. - Indira é quase um ideal feminino. Tem três filhos homens, uma filha mais nova que é a cereja do bolo, uma sogra, mas ela também é sogra... - enumera.
A personagem é severa com a nora Surya (Cléo Pires), mas também amarga uma relação difícil com Laksmi (Laura Cardoso), mãe de seu marido Opash (Tony Ramos). Eliane, atualmente solteira, destaca a riqueza dessas relações familiares. - Na Índia existem até realities shows sobre noras e sogras. A mãe e a esposa são entidades muito fortes na vida de um homem. Cada uma quer marcar o seu território. Engraçado é que em "Capitu" também vivi isso - relaciona a atriz. Eliane adora gravar as movimentadas cenas da casa de Indira, fala do prazer de contracenar com os atores do seu núcleo, mas confessa que as sequencias da família dão um trabalho danado. - É um cenário beeem complicado, com muita gente e várias coisas acontecendo ao mesmo tempo. Ali só tem fera. É uma loucura - diz, enfatizando bem essa última palavra. Tony Ramos, que contracena com Eliane pela primeira vez, está admirado: - Pude descobrir de perto a grande atriz que ela é: consciente de sua profissão e de seu personagem - elogia o ator. Quem já viu Eliane em cena sabe que a atriz demonstra domínio sobre o que faz. Ela, porém, admite seguir mais a intuição ao interpretar mulheres tão distantes como uma indiana. - Eu não tenho muito a preocupação de composição de personagem para as novelas. Acho que ao longo dos anos você vai criando uma persona e as pessoas sabem onde você pode transitar ou não. Mas eu participei dos workshops da novela. Afinal, aquilo não é um baile à fantasia. Eu sei o que estou representando e precisei entender o fundamento de cada gesto. Tik, tik, concordariam os indianos da novela.

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