sábado, 12 de junho de 2010

Giardini em ebulição

A atriz Eliane Giardini é daquelas mulheres cuja guinada na vida aconteceu perto dos 40. Desde então, ela não parou de se destacar e conquistar seu lugar no mundo das artes.

Pouco antes de subir ao palco do Teatro das Artes(RJ) para mais uma sessão da aplaudida peça "A Memória da Água", a bela Eliane Giardini recebeu o Bolsa de Mulher em seu camarim. O papo girou em torno do início de sua sólida carreira, da vida em família, dos amores vividos e de um novo amor. No final uma revelação: "penso ainda em ter filhos"

Eliane irradia felicidade, basta olhar seus enormes olhos verdes e seu lindo sorriso. Seria o relacionamento que mantém com um intelectual de sua idade o motivo de tanta alegria? Certamente, a atriz adora estar apaixonada, principalmente quando o motivo de tanta paixão é uma pessoa madura, sensível e adorável.

A realização da atriz não está restrita ao plano pessoal. A vida profissional está em estado de ebulição. Além da peça e da leitura de alguns capítulos da nova novela das oito, "O Clone", Eliane está começando a trilhar o caminho de escritora. "Acabei fazendo um seriado, são 12 programas. Estão prontinhos. O difícil é sair e produzir", confessa.

E haja vitalidade! Aos 48 anos, Eliane é dona de um corpinho de menina, construído a base de muito suor e malhação. Diariamente uma personal trainer a visita para uma hora de ginástica localizada braba: "são seis quilos em cada perna e em cada braço", diz. Quando o assunto é dieta, ela revela seu segredinho: "Eu como de tudo. Tomo um ótimo café da manhã, um excelente almoço e não janto. É aquela coisa: café da manhã de rainha, almoço de princesa e jantar de mendiga. Bebo também muita água e como muita fruta e salada."

Bolsa de Mulher – Você é mãe da Juliana e da Mariana. Como é teu relacionamento com elas? Você uma é mãe liberal ou tipo mãezona?


EG – Eu sou um misto de tudo. Sou uma libriana, uma pessoa que sempre busca equilíbrio, o caminho do meio, eu nunca vou muito pra extremidades. A gente sempre consegue um jogo legal. Nós somos hiperamigas, graças a Deus. A gente tem um relacionamento que é absurdamente bom, principalmente porque elas são duas mulheres. Somos três mulheres em casa. Elas fazem faculdade, viajam prá lá e prá cá.

BM – Você incentiva a carreira artística de Juliana, tua filha mais velha?


EG – Ela já estreou em São Paulo a peça “Feliz ano velho” e se deu bem pra caramba na estréia, foi aplaudida em cena aberta. Fiquei tão feliz! Eu incentivo muito, mas eu sempre esperei que elas escolhessem as coisas que elas queriam fazer. As duas estudam na PUC, uma faz história e a outra faz geografia. Uma quer ser cantora e atriz e a outra faz cinema, quer ser documentarista.

BM – Como é a relação delas com o Paulo Betti?

EG – Ótima, o Paulo é um excelente pai.

BM – E a relação dele com você?

EG – É ótima, graças a Deus. Ele é um excelente ex-marido. Ele é meu amigo.

BM – Como é a tua rotina?

EG – Existem duas rotinas: a ideal e a de quando estou trabalhando muito. A ideal é acordar às 9 horas da manhã, tomar um bom café, ler os jornais e fazer ginástica em casa às 11 horas.

BM – Você tem personal trainer?

EG – Tenho uma professora maravilhosa. Ela vai em casa diariamente às 11 horas. Ao meio-dia termina e tomo um banho. Faço ginástica localizada braba. Faço peso, de tudo um pouco, ela não repete aula, isso que é gostoso porque não enjoa. São seis quilos em cada perna e em cada braço.

BM – Você faz dieta?

EG – Eu como de tudo. Como um ótimo café da manhã, um excelente almoço e não janto. Bebo também muita água e como muita fruta e salada. Olha, no almoço vale até lingüiça, feijão, arroz, o que tiver. É aquela coisa: café da manhã de rainha, almoço de princesa e jantar de mendiga. À noite é um iogurte, uma fruta. Tomo água se eu sentir fome. Pra mim esse esquema é a melhor coisa, durmo bem pra caramba e não engordo.

BM – O que é a beleza?

EG – Tem vários tipos de beleza: beleza física, beleza de caráter, beleza de inteligência... São tantas, né?

BM – Quais são teus hobbies?

EG – Adoro ir ao cinema ou ver vídeo em casa. Eu sou muito caseira. Eu tenho um forno de pizza lá em casa, as pessoas vão lá e a gente fica inventando o sabor.

BM – O que você está lendo?

EG – Eu tenho uma leitura tão eclética. Eu vou começar hoje o novo livro do Rubem Fonseca, "Secreções, excreções e desatinos" (Companhia das Letras, R$ 21,00) . Fora isso, estou lendo muita poesia, acabei de declamar poesia na livraria Letras e Expressões, em Ipanema. Eu queria ler umas poesias do Eugênio de Andrade, um poeta português, aí comprei uma antologia dele. Estou completamente apaixonada pelo livro, passei o dia inteiro lendo.

BM – Como anda o coração?

EG – Vai bem (risos). Estou namorando mas não quero falar sobre isso porque o negócio é muito novo.

BM – Você gosta de se sentir apaixonada?

EG – É uma maravilha. Seria tão bom se a gente conseguisse viver assim o tempo todo.

BM – O que você aprendeu com o relacionamento com o seu ex-namorado Ernani Júnior, dezoito anos mais novo que você? Um homem mais novo pode acrescentar algo em nossas vidas?

EG – Eu não sei, não penso muito por esse ponto de vista. São coisas que acontecem na vida. Foi um relacionamento ótimo, uma maravilha, acho que foi a coisa certa no momento certo, entendeu? Eu estava saindo de um casamento, a coisa estava meio pesada e uma relação com uma pessoa mais nova deu uma leveza. Embora essa leveza não seja necessariamente porque eu estava com uma pessoa mais jovem. É sempre bom você se apaixonar. Foi ótimo e durou bastante mas eu, no fundo, sabia que queria uma pessoa da minha idade. Eu sou mais de relacionamento entre pessoas da mesma faixa. O problema referencial é muito forte, sabe? É legal você poder falar de coisas que o outro já viveu, ter coisas comuns, isto é, todo mundo aos 15 anos gostou dos Beatles, aos 20 leu Garcia Marques...Isso faz parte da história da gente e é gostoso você encontrar uma pessoa que também viveu esse momento.

BM – Teu namorado é ator?


EG – Não. Ele é um intelectual, é uma pessoa sensibilíssima, uma pessoa adorável.

BM – Qual teu maior defeito?

EG – Acho que é a insegurança, gostaria de ser mais segura. Todo mundo acha que sou uma mulher fortíssima e seguríssima, mas eu não sou. Eu sofro muito com a insegurança. Acho que preciso muito de evidências para entender que as coisas estão acontecendo mesmo. Eu gostaria de ser mais segura, mais confiante.

BM – Você faz análise?

EG – Já fiz, mas não estou fazendo agora.

BM – Você se acha uma mulher sensual?


EG– Acho (risos).

BM – A menopausa é um peso ou uma carta de alforria na vida das mulheres?


EG – Ah, eu não sei. Estou numa vida absolutamente normal, penso ainda em ter filhos. Às vezes me dá essa vontade ainda, sabe? Parece aquela coisa que está acabando e eu gosto tanto de criança. Ainda tenho vontade mas não sei se isso vai acontecer ou não.

BM – Como é a tua religiosidade?

EG – Eu não sou católica, não tenho religião mas eu tenho uma busca grande, uma coisa de auto conhecimento, eu busco muito na psicanálise, na ciência. Hoje está havendo um casamento tão grande de ciência e religião. Eu me afino muito com as leituras de Leonardo Boff, com esse tipo de coisa. Eu acho que sou uma pessoa que acredita na evolução, acredita em se construir, acredita em se melhorar. Sou uma pessoa sempre muito atenta para me melhorar a cada dia. Não gosto de me deter, de ficar paralisada em problemas, quero buscar logo soluções e crescer. Procuro enxergar um aprendizado nas coisas.

BM – Você acredita na reencarnação?

EG – Não, não acho que seja dessa forma. Isso tudo é um grande mistério. Eu não me preocupo se existe ou não, estou me preocupando com essa vidinha aqui
Bolsa de Mulher– Estamos na bilheteria do Teatro das Artes no Shopping da Gávea (RJ). Qual é a sensação que você está sentindo perante a fila que está se formando para comprar ingressos para a peça "A memória da água"?

Eliane Giardini – É o máximo ver essa receptividade de jovens e de pessoas mais velhas, isto é, estamos pegando um público bem eclético. É muito legal porque é uma peça muito boa e que não é essencialmente uma comédia. Não esperávamos uma receptividade de público tão grande num teatro de shopping. A gente achava que o espetáculo num teatro de shopping estaria meio deslocado porque o público que vai a um shopping prefere assistir a uma história leve para dar bastante risada e ir embora. É claro que a nossa peça também tem grandes picos de comédia, mas é uma peça densa, que faz refletir. É um drama, uma comédia psicológica.

BM – Qual é o enredo?

EG - Três irmãs se reúnem no dia em que a mãe morreu, pra fazer o funeral da mãe. Esse é o momento delas se darem conta que estão na casa da infância, esbarrarem a todo momento com fragmentos de memória, que comicamente não é a própria memória, uma meio que tomou a memória da outra e as memórias se misturaram. Enfim, a peça vai mais procurando recompor não só a memória da mãe, mas a identidade dessas três irmãs através dessa memória. O momento da perda da mãe é a perda da matriz mesmo, da primeira referência, do primeiro universo. É um momento muito especial quando as pessoas estão num estado especial de sensibilidade. Todas estão sensíveis ao passado, ao presente e tentando elaborar um futuro. Eu faço a filha mais velha e a Andréa Beltrão e Ana Beatriz Nogueira fazem as minhas irmãs. O Marcelo Vale faz o papel de meu marido e o Isio Ghelman ó namorado do personagem vivido pela Andréa Beltrão. A mãe aparece sempre aos 40 anos e é a Clarice Niskier que faz. Ela aparece como uma lembrança da irmã do meio.

BM – Até quando vai a temporada?


EG – A idéia era ficar quatro meses no Rio de Janeiro, ficar dois em São Paulo e depois fazer turnê. Mas agora, devido ao sucesso, estou achado que a peça vai ficar mais tempo no Rio de Janeiro.

BM - Você tem algum plano para a TV?

EG – Vou fazer a próxima novela das oito, "O Clone".

BM – Você poderia adiantar alguma coisa do personagem?


EG – Olha, o roteiro de alguns capítulos está no meu carro. A personagem chama Nazira e pertence ao núcleo árabe. Já conversei com o diretor e com a Glória Perez, que veio assistir a peça e a gente falou sobre o personagem.

BM – Qual foi a primeira novela que você fez ?

EG – Fiz, em 1982, o "Ninho da Serpente", em São Paulo. Era uma trama de altíssimo nível escrita por Jorge Andrade, um dos maiores escritores. Era um elenco da pesada: Cleyde Yaconis, Juca de Oliveira, Beatriz Segall.... A Beatriz fazia o papel de minha mãe.

BM – Você acha que tua atuação em "Renascer" foi um marco?


EG – Fiz o papel da Dona Patroa, que me deixou mais conhecida e me deu uma dimensão muito legal, que me situou como uma atriz. A mídia que você obtém pela televisão é uma coisa monumental e foi essa novela que me deu uma amplidão, uma visibilidade. Eu só tinha feito praticamente teatro até então. Faço teatro desde os 17 anos de idade.

BM – Onde você estudou teatro?


EG – Sou formada pela Escola de Arte Dramática de São Paulo, na USP. A minha carreira começou em 1975.

BM – É verdade que você escreve?

EG – Sim, escrever é mais um exercício até porque a gente passa a vida lendo roteiros e a gente sai corrigindo tanta coisa... Estou em contato com isso há 20 anos, aí me deu vontade. Eu sou fanática por seriados, adoro sitcoms. Sou viciada em "Friends", "That 70's Show", "Seinfeld"...Amo todos os da Sony. Aí me deu vontade de escrever uma coisa sim e acabei fazendo um seriado, são 12 programas. Estão prontinhos. O difícil é sair e produzir, entendeu? Tem que fazer um piloto, eu não tenho tempo para isso porque estou sendo muito requisitada como atriz. Uma hora que der uma brecha, que eu possa dar uma de produtora, farei o piloto pra mostrar o programa. Mas você já deve saber que tudo isso tudo vai exigir tempo e dinheiro. Já mostrei os episódios pra algumas pessoas e elas gostaram muito. O Felipe Hirsch, o diretor dessa peça, está comigo no projeto. A gente tem vontade de fazer um pilotão, uma espécie de trailer desse programa na hora que acabar a temporada da "Memória da água". O Felipe gosta de mexer muito com programação visual e tal.

BM –Como é a tua carreira de atriz de cinema?


EG – É muito curta, eu faço pouquíssimo cinema. O cinema exige que você se desloque e eu nunca consigo porque desde que eu vim pro Rio e eu tenho um contrato com a Globo, minha vida fica em função dessa prioridade. Eu consigo fazer um jogo super legal com o teatro e dá até para excursionar quando não estou fazendo novela, mas passar tipo três meses na Amazônia em função de um filme é muito difícil. Fiz um filme no ano passado na sorte. Eu ia estrear essa peça em setembro mas foi adiada e eu fiquei com um buraco na agenda. Aí me chamaram pra fazer um filme, eu fui pra Goiás e fiz uma história linda da Suzana Amaral que se chama "Uma vida em segredo". A Suzana já recebeu vários prêmios com o filme a "Hora da Estrela", inclusive em Berlim. Consegui participar do novo filme da Suzana porque eu só comecei a gravar a minissérie "Os Maias" em outubro do ano passado.

BM – Você ganhou um prêmio em Gramado?

EG – Ganhei o Kikito com um filme que eu fiz em Vitória e que chama "O amor está no ar". O Marcos Palmeira trabalhava também.

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