domingo, 13 de junho de 2010

Eliane Giardini está apaixonada por Tarsila

Desde que começou a mergulhar no universo de Tarsila do Amaral, sua personagem em Um Só Coração, Eliane Giardini não pára de pensar na quantidade de histórias que poderiam ser escritas sobre a pintora. Na opinião da atriz, a vida de Tarsila preencheria, sozinha, "umas dez minisséries". "Ela tem uma luz própria impressionante", avalia Eliane.
Exageros à parte, o fato é que a atriz vai continuar na pele da pintora depois do final da minissérie, e numa história só para ela. A autora de Um Só Coração, Maria Adelaide Amaral, convidou Eliane para estrelar a nova temporada de Tarsila, espetáculo que chegou a ocupar os palcos paulistanos por um mês e meio, com Esther Góes no papel-título. "Quando ela me convidou para a minissérie, já me deu a peça para ler e achei fantástica", comemora Eliane, que deve estrear o trabalho em maio.
Em função de Tarsila, a atriz se aventurou pela primeira vez com telas, pincéis e tintas. E jura ter se saído bem. "A professora insistiu para que eu continuasse as aulas", conta, orgulhosa. Suas pretensões, no entanto, não vão além do desejo de apresentar um trabalho o mais completo possível. Ela faz questão de dizer que não precisa de dublê nas cenas em que aparece pintando. E lamenta que o público talvez não perceba que são dela os traços que aparecem rascunhados por Tarsila. Aliás, colegas de cena, como José Rubens Chachá, que interpreta Oswald de Andrade, são os primeiros a duvidar. "Outro dia, estava desenhando com carvão e ele veio me perguntar se eu estava cobrindo os traços já feitos por alguém", comenta, aos risos.
Quais são as principais particularidades de interpretar uma personagem histórica?As diferenças são enormes. Temos uma liberdade muito maior ao fazer personagens dos quais as pessoas não têm nenhum resíduo no imaginário. Ao interpretar uma personagem real, fico um pouco engessada. Ao mesmo tempo, não temos muitos registros da Tarsila, a não ser os auto-retratos e as fotografias, que são coisas estáticas. Então, não posso fazer um trabalho como gostaria, de me aproximar não só fisicamente, mas também do temperamento dela, do jeito de ser, de falar, de caminhar.
Quais foram suas principais preocupações para não "trair" a essência da personagem?
Ela tem uma personalidade muito rica e preciso fazer escolhas o tempo todo. Gostaria, por exemplo, de fazê-la um pouco mais sofisticada, mas isso comprometeria a naturalidade. Ela era extremamente educada, imagino que não falasse alto, que se sentasse bem, não se "jogasse" nos lugares. Ao mesmo tempo, acho que os modernistas quebraram um pouco com tudo isso, tinham uma cabeça muito aberta. Então tento mostrar os dois lados: era uma mulher criada numa sociedade patriarcal, educada para ser dona-de-casa, mas falava várias línguas, casou, separou, foi para a Europa...

Esta aparente contradição foi o que mais atraiu você na personagem?
O mais fantástico é que ela rompeu todos os padrões da época sem fazer barulho. Sempre fez tudo o que quis - casou duas vez, "amigou" outras duas, o último marido era um rapaz com mais de 20 anos a menos que ela... Tudo isso dentro da alta sociedade, que é o lugar mais cheio de preconceitos e limites. E ela nunca foi banida, muito pelo contrário, era extremamente bem-vinda onde estivesse.

Você tem alguma predileção por minisséries?
Na realidade, gosto muito da falta de definição dos personagens de novela. Gosto de brincar com isso, de saber que o personagem pode ir para qualquer lugar. Na minissérie, já conhecemos a trajetória do personagem do início ao fim, não dá muito para fugir daquilo, sobretudo no caso de personagens históricos. Ao mesmo tempo, tem um requinte de produção que é incrível.

Você gosta de se sentir responsável pelos rumos de seus personagens nas novelas?
É isso. Nas minisséries, a gente já pega os personagens resolvidos, para o bem ou para o mal. Já em novelas sempre é possível injetar uma energia. Costumo dizer que a gente nunca deve recusar um papel em novela. É como uma corrida de São Silvestre: colocam todo mundo lá e dão a largada. Quem tiver resistência, conseguir correr bem e não se esgotar, chega. Porque a história da heroína se esgota e o autor vai ter de ir para algum lugar. Então há sempre muitas possibilidades. A não ser que o autor desista de escrever para o artista. Aí é melhor pedir para sair.

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